CARCINOMA ESPINOCELULAR PIGMENTADO EM ÁREA NÃO FOTOEXPOSTA DE MULHER INDÍGENA Moura L.A. Publicação oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia Dermatologia Anais Brasileiros de Volume 99 Número 1 2024 www.anaisdedermatologia.org.br FI 1,7 Variações da anatomia oral e afecções orais comuns Estudo epidemiológico e clínico dos casos de pênfigo foliáceo endêmico e pênfigo vulgar em um centro de referência no estado de Minas Gerais, Brasil Incidência de radiodermatite e fatores associados à sua gravidade em mulheres com câncer de mama: estudo de coorte Consenso sobre a terminologia na língua portuguesa do Brasil a ser utilizada no exame de microscopia confocal de refletância em pele normal, lesões melanocíticas e não melanocíticas Incisão a 90° na cirurgia micrográfica de Mohs para tumores de margem palpebral - existe benefício? Caso peculiar de doença linfoproliferativa afetando a pele e o colo uterino em homem transgênero Cromoblastomicose em paciente transplantado renal
PERIODICIDADE BIMESTRAL EDITOR CIENTÍFICO Silvio Alencar Marques Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil EDITORES CIENTÍFICOS ASSOCIADOS Ana Maria Roselino Universidade de São Paulo (USP) - Ribeirão Preto (SP), Brasil Hiram Larangeira de Almeida Jr Universidade Federal de Pelotas e Universidade Católica de Pelotas, Pelotas (RS), Brasil Luciana P Fernandes Abbade Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Botucatu (SP), Brasil EQUIPE TÉCNICA Nazareno Nogueira de Souza BIBLIOTECÁRIA Vanessa Zampier An Bras Dermatol.| Rio de Janeiro | v.99 | n.1 | p. 1–164 | Janeiro/Fevereiro 2024 w w w. a n a i s d e d e r m a t o l o g i a . o r g . b r Anais Brasileiros de Dermatologia Publicação Oficial da Sociedade Brasileira de Dermatologia ISSN: 0365-0596 Online ISSN: 1806-4841
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA Afiliada à Associação Médica Brasileira SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA Diretoria 2023-2024 Presidente: Heitor de Sá Gonçalves | CE Vice-Presidente: Carlos Baptista Barcaui | RJ Secretária Geral: Francisca Regina Oliveira Carneiro | PA Tesoureiro: Márcio Soares Serra | RJ 1a Secretária: Rosana Lazzarini | SP 2a Secretária: Fabiane Andrade Mulinari Brenner | PR INDEXAÇÕES • PubMed/ PubMed Central/ MEDLINE • SCO PUS • Periódica - Índice de Revistas Latinoamericanas en Ciências • Latindex - Información en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el Caribe, España y Portugal • TDB - Tropical Diseases Bulletin • Embase - Excerpta Medica • Lilacs - Literatura Latinoamericana e do Caribe em Ciências da Saúde • Web of Knowledge (JCR, Web of Science) ACESSO ONLINE • SciELO-Brasil - Scientific Electronic Library OnLine www.scielo.br/abd • Anais Brasileiros de Dermatologia www.anaisdedermatologia.org.br QUALIS/CAPES • Medicina I B2 • Medicina II B2 © 2022 Sociedade Brasileira de Dermatologia. Publicada por Elsevier España. Todos os direitos reservados.
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Volume 99. Número 1. Janeiro/Fevereiro 2024 Sumário Editorial Anais Brasileiros de Dermatologia: métricas relativas a 2022 e posição no ranking dos periódicos em Dermatologia............... 1 Sílvio Alencar Marques, Ana Maria Ferreira Roselino, Hiram Larangeira de Almeida Jr., Luciana P. Fernandes Abbade Educação Médica Continuada Variações da anatomia oral e afecções orais comuns ................................................................................. 3 Paulo Ricardo Martins Souza, Letícia Dupont, Gabriela Mosena, Manuela Lima Dantas, Lucas Abascal Bulcão Artigo Original Caracterização clínica, fragilidade física e depressão em idosos com psoríase oriundos de centro de referência no Brasil: estudo transversal .......................................................................................................................... 19 Giovana Viotto Cagnon Brandão, Elizandra Gomes Pereira, Gabriela Roncada Haddad, Luciane Donida Bartoli Miot, Silvio Alencar Marques, Hélio Amante Miot Diminuição de 5-hidroximetilcitosina na doença linfoproliferativa cutânea primária de células T CD4+ pleomórfi cas pequenas/médias ........................................................................................................................... 27 Jiahui Hu, Xinyue Zhang, Lihong Zhao, Qiang Zhao, Songmei Geng Níveis séricos elevados de IL-6 predizem a interrupção do tratamento em pacientes com psoríase moderada a grave: estudo de coorte de seis anos no mundo real .......................................................................................... 34 Natália Ribeiro de Magalhães Alves, Patrícia Shu Kurizky, Licia Maria Henrique da Mota, Cleandro Pires de Albuquerque, Juliana Tomaz Esper, Aridne Souza Costa Campos, Vitoria Pereira Reis, Henrique Metzker Ferro, Natalia Gil-Jaramillo, Joaquim Pedro Brito-de-Sousa, Luana Cabral Leão Leal, Otávio de Toledo Nóbrega, Carla Nunes de Araújo, Agenor de Castro Moreira dos Santos Júnior, Gladys Aires Martins, Olindo Assis Martins Filho, Ciro Martins Gomes Estudo epidemiológico e clínico dos casos de pênfi go foliáceo endêmico e pênfi go vulgar em centro de referência no estado de Minas Gerais, Brasil ............................................................................................................ 43 Vanessa Martins Barcelos, Everton Carlos Siviero do Vale, Marcelo Grossi Araujo, Flávia Vasques Bittencourt Eventos cardiovasculares em pacientes hansenianos multibacilares e o uso de talidomida associada a corticosteroides .......... 53 Melissa de Almeida Corrêa Alfredo, Juliano Vilaverde Schmitt, Anna Carolina Miola, Simone de Pádua Milagres, Joel Carlos Lastoria Incidência de radiodermatite e fatores associados à sua gravidade em mulheres com câncer de mama: estudo de coorte ............................................................................................................................ 57 Loren Giagio Cavalcante, Rejane Aparecida Rodrigues Domingues, Batista de Oliveira Junior, Marco Antônio Rodrigues Fernandes, Eduardo Carvalho Pessoa, Luciana Patrícia Fernandes Abbade IL-1 e IL-17 em biopsias de pele de lúpus eritematoso cutâneo: a imuno-histoquímica poderia indicar tendência ao envolvimento sistêmico? ................................................................................................................... 66 Barbara Hartung Lovato, Leticia Fogagnolo, Elemir Macedo de Souza, Larissa Juliana Batista da Silva, Paulo Eduardo Neves Ferreira Velho, Maria Leticia Cintra, Fernanda Teixeira Metotrexato para dermatite atópica adulta refratária induz alterações na expressão cutânea de IL-31 e IL-31RA ........ 72 Luciana Paula Samorano, Kelly Cristina Gomes Manfrere, Naiura Vieira Pereira, Roberto Takaoka, Neusa Yuriko Sakai Valente, Mirian Nacagami Sotto, Luiz Fernando Ferraz Silva, Maria Notomi Sato, Valeria Aoki Anormalidade tireoidiana em pacientes com psoríase: prevalência e associação com gravidade ............................. 80 Luiza de Castro Fernandes, Ana Carolina Belini Bazan Arruda, Lisa Gava Baeninger, Debora Pedroso Almeida, Danilo Villagelin Artigo especial Avaliação bibliométrica dos Anais Brasileiros de Dermatologia (2013-2022)...................................................... 90 Hélio Amante Miot, Paulo Ricardo Criado, Caio César Silva de Castro, Mayra Ianhez, Carolina Talhari, Paulo Müller Ramos
Consenso sobre a terminologia na língua portuguesa do Brasil a ser utilizada no exame de microscopia confocal de refl etância em pele normal, lesões melanocíticas e não melanocíticas ....................................................... 100 Juliana Casagrande Tavoloni Braga, Carlos B. Barcaui, Ana Maria Pinheiro, Ana Maria Fagundes Sortino, Cristina Martinez Zugaib Abdalla, Gabriella Campos-do-Carmo, Gisele Gargantini Rezze, Juan Piñeiro-Maceira, Lilian Licarião Rocha, Marcus Maia, Bianca Costa Soares de Sá Cartas - Investigação Dermatoscopia de carcinoma basocelular de pequeno diâmetro: estudo de caso-controle .................................... 111 Francisca Kinzel-Maluje, Daniela González-Godoy, Pablo Vargas-Mora, Pablo Muñoz Incisão a 90˚ na cirurgia micrográfi ca de Mohs para tumores de margem palpebral - Existe benefício? ...................... 115 Glaysson Tassara Tavares, Isabela Boechat Morato, Alberto Julius Alves Wainstein Cartas - Caso clínico Linfangiectasia adquirida no lábio de paciente com doença de Crohn............................................................. 118 Ana Llull-Ramos, Juan Garcías-Ladaria, Inés Gracia-Darder, Aniza Giacaman Dermatoscopia da pitiríase liquenoide e varioliforme aguda (PLEVA) .............................................................. 120 Camilo Arias-Rodriguez, Juan Guillermo Hoyos-Gaviria, Ana María Muñoz-Monsalve, Alejandro Hernandez-Martinez Síndrome de Nicolau extensa após diclofenaco sódico intramuscular .............................................................. 123 Rafael Oliveira Amorim, Alana Luísa Calixto Carlos da Silva, Camila Arai Seque, Adriana Maria Porro Úlcera vulvar de Lipschütz em adolescente após vacina da Pfi zer contra COVID-19 ............................................. 125 Juan-Manuel Morón-Ocaña, Ana-Isabel Lorente-Lavirgen, Isabel-María Coronel-Pérez, María-Luisa Martínez Barranca Linfangioma circunscrito avaliado por microscopia confocal ........................................................................ 127 Camila Schlang Cabral da Silveira, Renata Miguel Quirino, Carlos Baptista Barcaui, Luna Azulay-Abulafi a Caso pediátrico de cisto triquilemal na face ........................................................................................... 130 Mai Endo, Toshiyuki Yamamoto Carcinoma espinocelular pigmentado em área não fotoexposta de mulher indígena............................................ 131 Luana Amaral de Moura, Lucia Martins Diniz, Emilly Neves Souza, Lucas Amaral de Moura Cartas - Dermatopatologia Caso peculiar de doença linfoproliferativa afetando a pele e o colo uterino em homem transgênero ....................... 135 Jade Cury-Martins, Marcelo A. Giannotti, Denis Miyashiro, Juliana Pereira, José Antonio Sanches Nova técnica de inclusão em parafi na de amostra de unha fi xada em formalina, obtida por excisão tangencial – Molde de batata como guia ............................................................................................................... 139 Laura Bertanha, Cristina Diniz Borges Figueira de Mello, Ingrid Iara Damas, Rafael Fantelli Stelini, Nilton Di Chiacchio, Maria Letícia Cintra Cartas - Tropical/Infectoparasitária Cromoblastomicose em paciente transplantado renal ............................................................................... 142 Ingrid Rocha Meireles Holanda, Priscila Neri Lacerda, Carolina Nunhez da Silva, Rosangela Maria Pires de Camargo, Anna Carolina Miola, Silvio Alencar Marques Infecção esporotricose-símile causada por Mycobacterium abscessus após mordida de cão ................................... 145 Patricia Guadalupe Mendoza-Del Toro, Arturo Robles-Tenorio, Víctor Manuel Tarango-Martínez Cartas - Terapia Dermatose perfurante reacional adquirida tratada com sucesso com alopurinol ................................................ 148 Ana Gusmão Palmeiro, Maria João Gonçalves, Cristina Amaro, Isabel Viana Resolução completa de granuloma anular elastolítico de células gigantes generalizado com doxiciclina.................... 150 Dídac Marín-Piñero, M. Ángeles Sola-Casas, Noelia Perez-Muñoz Psoríase pustulosa desencadeada após terapêutica com atezolizumabe e bevacizumabe ...................................... 153 Mariani Magnus da Luz Andrade, Guilherme Ladwig Tejada, Juliano Peruzzo, Renan Rangel Bonamigo Tratamento bem-sucedido do pênfi go foliáceo eritrodérmico com imunoglobulina endovenosa............................... 156 Hiram Larangeira de Almeida Jr., Junior Wieczorek, Mahony Santana, Celina Leite Carcinoma espinocelular de pavilhão auricular irressecável e com metástase locorregional: relato do uso de cemiplimabe em paciente imunossuprimido ............................................................................................................ 158 Tatiana Ferreira França, João Renato Vianna Gontijo, Eduardo Ferraz Veloso Junior, Enaldo Melo de Lima Correspondências Comentário sobre o artigo “Elevação das transaminases após sessão de MMP® com metotrexato para tratamento de alopecia areata - O que sabemos sobre os riscos de absorção sistêmica da técnica?”....................................... 161 Samir Arbache, Sergio Henrique Hirata Comentário referente à publicação “Elevação das transaminases após sessão de MMP® com metotrexato para tratamento de alopecia areata - o que sabemos sobre os riscos de absorção sistêmica da técnica?” - Resposta.......................... 162 Renata Heck, Renan Rangel Bonamigo
Anais Brasileiros de Dermatologia 2024;99(1):1- 2 Anais Brasileiros de Dermatologia www.anaisdedermatologia.org.br EDITORIAL Anais Brasileiros de Dermatologia: métricas relativas a 2022 e posi¸cão no ranking dos periódicos em Dermatologia , Prezados Associados, Este fascículo 99(1) dos Anais Brasileiros de Dermatologia (ABD) traz artigo especial elaborado por Miot et al.1 voltado à apresenta¸cão e discussão das métricas, que informam à comunidade científica sobre o ranking dos ABD em compara¸cão aos periódicos científicos em Medicina e Dermatologia. Mesmo levando-se em conta os vieses possíveis, as distintas inser¸cões acadêmicas das especialidades, os editores de cada periódico científico deverão refletir sobre caminhos e propostas futuras, visando alcan¸car melhor rankingentre seus congêneres. E por que isso é importante? Em primeiro lugar, para atrair artigos com maior rigor científico, inéditos, mais bem documentados e ilustrados e com potencial de visualiza¸cão internacional e cita¸cão. Os autores terão a recompensa de que suas produ¸cões científicas sejam reconhecidas e citadas, gra¸cas ao status científico do periódico em que publicam; para ser bem avaliados pelas agências de fomento e pelos órgãos reguladores dos Programas de Pós- -gradua¸cão strito sensu. E, ainda, no caso dos ABD, pela expressão de boas métricas e boa posi¸cão no ranking, os autores e editores contribuem para a manuten¸cão de um círculo virtuoso de suporte e investimento em melhorias e crescimento científico. As métricas relativas a 2022, divulgadas entre junho e julho de 2023, dizem respeito aos índices de cita¸cões DOI referente ao artigo: https://doi.org/10.1016/j.abd.2023.08.002 Como citar este artigo: Marques SA, Roselino AM, Almeida Jr HL, Abbade LP. Anais Brasileiros de Dermatologia: metrics related to 2022 and position in the ranking of Dermatology journals. An Bras Dermatol. 2024;99:1- 2. Trabalho realizado no Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil. recebidas pelo periódico durante o ano de 2022 a artigos publicados no mesmo periódico nos anos anteriores.1 Três são as métricas mais utilizadas: na Scimago Journal Rank (SJR), que utiliza ampla base de dados, os ABD subiram ligeiramente (de 0,428 para 0,449), e ascenderam ao Quartil 2 (Q2) dos periódicos em Dermatologia. No CiteScore, que utiliza base de dados de 26.500 periódicos, passamos de 2,3 para 2,4 e, 60a posi¸cão entre 133 periódicos, e igualmente Q2. A métrica mais reconhecida e valorizada, o Fator de Impacto (FI) da Web of Sciences, contabiliza cita¸cões a artigos publicados nos dois anos imediatamente anteriores, utiliza dados de 21.500 periódicos e, com foco, em nosso caso, em 70 periódicos relacionados à Dermatologia. Referente a 2022, a posi¸cão dos ABD correspondeu ao 50◦ lugar, Q3, consequente à redu¸cão do seu FI para 1,7 (frente a 2,13 no ano de 2021). Miot et al. demonstram que a redu¸cão percentual do FI ocorreu de modo semelhante para o conjunto dos periódicos científicos brasileiros avaliados e o mesmo para o conjunto dos periódicos internacionais de Dermatologia. O conhecimento das métricas atuais nos leva a investir em a¸cões para que os ABD alcancem ranking mais competitivo. Os caminhos para isso exigem que os ABD, representante maior da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), às vésperas de completar 100 anos de publica¸cão ininterrupta, seja mais bem cuidado e valorizado por seus pares nacionais. Almeja-se maior visibilidade, redu¸cão do tempo entre submissão e publica¸cão, melhor qualidade da documenta¸cão e da revisão. Os artigos, que trataram de endemias nacionais e internacionais, como observado em rela¸cão aos casos de Mpox, efeitos dermatológicos induzidos pela COVID-19 e os relacionados a vacinas anti- -SARS-CoV-2, tiveram a publica¸cão agilizada em virtude da premência imposta e em coerência com o exposto acima.2- 5 2666-2752/© 2023 Publicado por Elsevier Espan˜a, S.L.U. em nome de Sociedade Brasileira de Dermatologia. Este e´ um artigo Open Access sob uma licen¸ca CC BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
EDITORIAL Esses são compromissos perenes da Editoria dos ABD e da Diretoria da SBD, e convidamos os autores e leitores que a nós se associem nessa tarefa. Suporte financeiro Nenhum. Contribui¸cão dos autores Silvio Alencar Marques: Aprova¸cão da versão final do manuscrito; elabora¸cão e reda¸cão do manuscrito. Ana Maria Roselino: Aprova¸cão da versão final do manuscrito; elabora¸cão e reda¸cão do manuscrito. Hiram Larangeira de Almeida Junior: Aprova¸cão da versão final do manuscrito; elabora¸cão e reda¸cão do manuscrito. Luciana P. Fernandes Abbade: Aprova¸cão da versão final do manuscrito; elabora¸cão e reda¸cão do manuscrito. Conflito de interesses Nenhum. Referências 1. Miot HA, Criado PR, Castro CCS, Ianhez M, Talhari C, Muller-Ramos P. Bibliometric evaluation of Anais Brasileiros de Dermatologia (2013-2022). An Bras Dermatol. 2024;99:90- 9. 2. Lopes PS, Roncada GH, Miot HA. Sexually transmitted monkeypox: report of two cases. An Bras Dermatol. 2022;97:783- 5. 3. Bjekic M, Markovic M, Dejanovic L. Genital rash as an initial presentation of monkeypox. An Bras Dermatol. 2023;98:108- 27. 4. Fritzen M, Funchal GG, Luiz MO, Durigon GS. Leukocytoclastic vasculitis after exposure to COVID-19 vaccine. An Bras Dermatol. 2022;97:118- 28. 5. Cestari SCP, Cestari MCP, Marques GF, Lirio I, Tovo R, Labriola ICS. Cutaneous manifestations of COVID-19 patients in a Hospital in São Paulo, Brazil, and global literature review. An Bras Dermatol. 2023;98:466- 71. Sílvio Alencar Marques a,∗, Ana Maria Ferreira Roselino b, Hiram Larangeira de Almeida Jr. c,d e Luciana P. Fernandes Abbade a a Departamento de Infectologia, Dermatologia, Diagnóstico por Imagem e Radioterapia, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, SP, Brasil b Departamento de Dermatologia, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP, Brasil c Departamento de Dermatologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil d Departamento de Dermatologia, Universidade Católica de Pelotas, Pelotas, RS, Brasil ∗Autor para correspondência. E-mail: silvio.marques@unesp.br (S.A. Marques). 2
Anais Brasileiros de Dermatologia 2024;99(1):3- 18 Anais Brasileiros de Dermatologia www.anaisdedermatologia.org.br EDUCAC¸ÃO MÉDICA CONTINUADA Varia¸cões da anatomia oral e afec¸cões orais comuns , Paulo Ricardo Martins Souza a,b,∗, Letícia Dupont a,b, Gabriela Mosena a, Manuela Lima Dantas a,b e Lucas Abascal Bulcão b a Servi¸co de Dermatologia, Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil b Departamento de Clínica Médica/Dermatologia, Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil Recebido em 16 de fevereiro de 2023; aceito em 23 de junho de 2023 PALAVRAS-CHAVE Boca; Doen¸cas da boca; Mucosa oral; Patologia bucal Resumo Neste artigo são abordados resumidamente vários temas relacionados à cavidade oral, desde varia¸cões anatômicas, que ao serem reconhecidas evitam investiga¸cões desnecessárias, como doen¸cas de acometimento exclusivamente oral e doen¸cas mucocutâneas, bem como manifesta¸cões orais de doen¸cas sistêmicas. Um exame clínico completo compreende o exame da boca, e sua abordagem rotineira tem facilitado a prática clínica, encurtando o caminho para o diagnóstico, mostrando-se importante recurso na abordagem de nossos pacientes ambulatoriais ou hospitalares. O objetivo deste artigo é estimular o exame da cavidade oral como ferramenta útil na prática médica, auxiliando no reconhecimento de suas afec¸cões. © 2023 Publicado por Elsevier Espan˜a, S.L.U. em nome de Sociedade Brasileira de Dermatologia. Este e´ um artigo Open Access sob uma licen¸ca CC BY (http://creativecommons.org/licenses/ by/4.0/). DOI referente ao artigo: https://doi.org/10.1016/j.abd.2023.06.001 Como citar este artigo: Souza PR, Dupont L, Mosena G, Dantas ML, Bulcão LA. Variations of oral anatomy and common oral lesions. An Bras Dermatol. 2024;99:3- 18. Trabalho realizado no Servi¸co de Dermatologia, Hospital da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre, RS, Brasil. ∗ Autor para correspondencia. E-mail: prmsouza@live.com (P.R. Souza). Introdu¸cão As doen¸cas bucais são importante problema de saúde pública e têm alta prevalência.1 Elas acometem todas as faixas etárias e podem ter caráter crônico e progressivo, ocasionando grande impacto negativo na qualidade de vida.2 A cavidade oral deve ser avaliada como um todo; é importante que o examinador padronize sua própria rotina. O exame da boca compreende o vestíbulo (parte entre as mucosas labiais e os dentes), a parte interna da região bucinadora, o palato, o dorso da língua, o assoalho da boca, que ao ser examinado torna possível observar também a parte ventral da língua e a orofaringe. Todas essas regiões devem ser visualizadas e palpadas, bem como os linfonodos 2666-2752/© 2023 Publicado por Elsevier Espan˜a, S.L.U. em nome de Sociedade Brasileira de Dermatologia. Este e´ um artigo Open Access sob uma licen¸ca CC BY (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
P.R. Souza, L. Dupont, G. Mosena et al. Figura 1 (A) Grânulo de Fordyce. (B) Leucoedema. (C) Língua fissurada. (D) Língua geográfica parotídeos, bucais, sublinguais, submentonianos, cervicais superficiais e profundos.3 As variantes anatômicas da boca são extremamente comuns e motivo frequente de consulta clínica, e serão aqui também abordadas. Algumas delas estão presentes em mais de 80% da popula¸cão1 e requerem apenas orienta¸cão aos pacientes. Reconhecer seus aspectos clínicos é fundamental para evitar tratamentos ou investiga¸cões desnecessárias. Por outro lado, altera¸cões orais podem sugerir doen¸cas mucocutâneas ou sistêmicas e devem compor o raciocínio clínico, podendo ser um atalho na investiga¸cão ao serem reconhecidas. Variantes anatômicas Grânulos de Fordyce Variante anatômica extremamente comum. Trata-se de glândulas sebáceas ectópicas que ocorrem na semimucosa labial e na mucosa oral. Surge geralmente na idade adulta.4 Apresenta-se como granula¸cões amareladas, redondas ou poligonais, justapostas ou isoladas, geralmente em grande quantidade (fig. 1A). É comum um verdadeiro clareamento da semimucosa labial superior, região mais acometida, às custas de grande número de glândulas sebáceas agrupadas, o que leva pacientes a buscar atendimento por preocupa¸cão com a saúde ou por motivos estéticos.5 A histopatologia assemelha-se à das glândulas sebáceas encontradas na pele.4 Leucoedema É condi¸cão da mucosa oral encontrada frequentemente em indivíduos de pele negra, embora não seja exclusiva dessa popula¸cão. O leucoedema é varia¸cão anatômica da cavidade oral (fig. 1B) e acomete principalmente a região jugal, que adquire aparência branco-acinzentada, de aspecto leitoso e opalescente. Mais raramente, acomete as laterais da língua. Uma manobra que facilita o diagnóstico é a observa¸cão do desaparecimento da lesão ao distender a mucosa jugal, retornando a ser visualizada quando se deixa de exercer a manobra.4,6 Língua fissurada Variante anatômica comum, caracterizada por número variado de sulcos que acometem o dorso da língua com profundidade variável (fig. 1C). Alguns indivíduos apresentam apenas uma fissura central mais longa. Pode ser observada tanto em crian¸cas quanto em adultos, com pre4
Anais Brasileiros de Dermatologia 2024;99(1):3- 18 Figura 2 (A) Língua nigra pilosa. (B) Linea alba. (C) Mácula melanótica oral. (D) Hiperpigmenta¸cão fisiológica valência aumentada com a idade. É sinal clássico, porém o menos importante, da síndrome de Melkersson-Rosenthal.7 Além disso, existe forte rela¸cão entre a língua fissurada e a língua geográfica, com vários indivíduos portando ambas as condi¸cões.4 O paciente deve ser aconselhado a escovar a língua durante a higiene bucal.4,7 Língua geográfica (Erythema migrans, mucosite geográfica) A língua geográfica caracteriza-se por áreas despapiladas com carácter migratório, modificando seu desenho diariamente (fig. 1D). Por vezes, essas áreas despapiladas apresentam bordas mais queratinizadas que o restante da língua, com histologia semelhante à psoríase. Esse achado histológico das bordas de algumas lesões faz com que alguns autores atribuam etiologia psoriásica (doen¸ca caracterizada por placas fixas e espessadas/hiperceratóticas) a uma doen¸ca migratória e atrófica. Como único sintoma, pode ocorrer sensibilidade a cítricos ou alimentos condimentados nas áreas despapiladas em alguns indivíduos. Afec¸cão de etiologia desconhecida, afeta entre 1% e 3% dos indivíduos. Pode acometer outras áreas da mucosa oral, como mucosa jugal, palato, mucosas labiais e por¸cão ventral da língua.4 Língua saburrosa/língua nigra pilosa Ocorre pelo acúmulo de queratina nas papilas filiformes no dorso da língua, que se tornam mais alongadas conferindo aspecto piloso (fig. 2A). Mais frequente em fumantes, pessoas de pobre higiene oral, pacientes debilitados e indivíduos com história de radioterapia de cabe¸ca e pesco¸co. Representa aumento na produ¸cão de queratina ou diminui¸cão em sua descama¸cão normal. Quando não há proje¸cões pilosas, denomina-se língua saburrosa. Pode ter colora¸cão amarelada, marrom ou negra pela presen¸ca de bactérias produtoras de pigmento.8,9 Linha alba/linha oclusal A linha alba é uma altera¸cão na mucosa jugal associada a trauma por pressão ou suc¸cão entre as superfícies vestibulares e os dentes, na região oclusal (fig. 2B). Clinicamente, percebe-se uma linha branca, geralmente bilateral, elevada, variando sua proeminência.4 A biopsia desse tipo de lesão mostra hiperortoceratose cobrindo uma mucosa normal. Quando ocorre a mesma linha elevada com colora¸cão normal, não branca, chamamos de linha oclusal.4,7 5
P.R. Souza, L. Dupont, G. Mosena et al. Figura 3 (A) Tórus palatino. (B) Varizes linguais Mácula melanótica oral A mácula melanótica oral costuma ser única, bem delimitada, de tons acastanhados ou negros (fig. 2C). Ocorre principalmente na semimucosa labial inferior, quando pode ser chamada também de mácula melanótica labial. Alguns autores questionam a exposi¸cão solar como fator causal. Pode acometer também mucosa bucal, gengiva e palato. É mais frequente em mulheres, sem predile¸cão por idade. Histologicamente, caracteriza-se por produ¸cão aumentada de melanina com melanócitos morfologicamente normais da camada basal.10,11 Pigmenta¸cão fisiológica A pigmenta¸cão fisiológica é caracterizada por áreas circunscritas, únicas ou múltiplas, de hiperpigmenta¸cão na mucosa oral, geralmente em pessoas com fototipos altos, acometendo principalmente gengiva, mucosa jugal e palato (fig. 2D). Deve ser diferenciada principalmente da pigmenta¸cão por fármacos, como a minociclina que causa descolora¸cão azul acinzentada por depósito de metabólitos da substância.4 Tórus palatino e mandibular O tórus palatino é uma exostose comum que acontece no teto da cavidade bucal. Manifesta-se como massa óssea elevada recoberta por mucosa normal disposta ao longo da sutura na linha média do palato duro, podendo apresentar aspecto plano, nodular ou lobular (fig. 3A). Em geral, são forma¸cões pequenas, menores que 2 cm, assintomáticas. A inspe¸cão e palpa¸cão das lesões são suficientes para caracterizá-la.4 O torus mandibular é exostose comum que se apresenta como protuberância óssea ao longo da mandíbula, acima da linha milo-hióidea, na região dos pré-molares. O envolvimento bilateral acontece em 90% dos casos e geralmente consiste em nódulos únicos, podendo ser múltiplos. Sua prevalência é inferior à do torus palatino.4 Amaioria é diagnosticada clinicamente.4 Varizes linguais Varizes são veias anormalmente dilatadas e tortuosas (fig. 3B). São muito comuns em idosos e raras em crian¸cas, sugerindo que tal condi¸cão seja uma degenera¸cão relacionada à idade em virtude da perda de tecido conectivo que dá suporte aos vasos. Estima-se ocorrer em 2/3 da popula¸cão com mais de 60 anos. Não está associada a doen¸cas sistêmicas. Classicamente, apresentam-se como múltiplas eleva¸cões azuladas ou arroxeadas, mais comumente na região ventral da língua.4 Lesões traumáticas Epulis fissuratum/epúlide fissurado Lesão hiperplásica que se forma justaposta e paralela ao encaixe das próteses, em um lado ou ambos os lados, com fissura central correspondendo ao encaixe da prótese (fig. 4A). O tecido redundante é usualmente firme, podendo ser fibroso. Algumas lesões podem ser semelhantes a granuloma piogênico. Pode ocorrer na maxila ou mandíbula. Histologicamente, ocorre hiperplasia do tecido conjuntivo fibroso.4 Fibroma de irrita¸cão ou traumático O fibroma gengival é uma hiperplasia reativa de tecido conjuntivo fibroso em resposta a trauma ou irrita¸cão. É uma afec¸cão comum, produzindo na maioria das vezes lesões sésseis, e eventualmente pedunculadas. A localiza¸cão mais frequente é na linha de mordedura, podendo ocorrer em qualquer área da mucosa oral. As lesões têm superfície lisa de cor semelhante à mucosa ao seu redor (fig. 4B). Alguns podem se tornar hipocrômicos por queratiniza¸cão em virtude do trauma repetido. As lesões são assintomáticas e geralmente menores que 1,5 cm. Histologicamente, são uma massa de tecido conjuntivo fibroso recoberta por epitélio escamoso estratificado.4 Granuloma piogênico O granuloma piogênico é lesão proliferativa que ocorre após mínimo trauma. Consiste em crescimento tumoral de natureza não neoplásica, causado por rea¸cão exagerada de tecido de granula¸cão e vascular, com tendência a sangramento (fig. 4C). É o tumor oral mais frequente em crian¸cas e jovens. Além disso, gestantes classicamente desenvolvem a doen¸ca. A região gengival é a mais frequente, porém outras áreas podem ser acometidas, como lábios ou língua. Por vezes, pode ser confundido com hiperplasia gengival.7 6
Anais Brasileiros de Dermatologia 2024;99(1):3- 18 Figura 4 (A) Epúlide fissurado. (B) Fibroma traumático. (C) Granuloma piogênico. (D) Morsicatio buccarum Leucoceratose irritativa/friccional Causa mais frequente de lesão branca (ou leucoplasiforme) oral. Representa o espessamento e a consequente queratiniza¸cão da mucosa por trauma repetido, o equivalente a uma calosidade. Clinicamente, percebem-se lesões bilaterais na mucosa jugal, mas também na borda lateral da língua e até mesmo nos lábios. Identificam-se áreas brancas e espessas, algumas vezes intercaladas com eritema, erosões e púrpura. Eventualmente, o paciente descreve que manipula a lesão. Devemos estar atentos para irregularidades dos dentes ou da arcada dentária, uso de órteses ou próteses como possíveis agentes de lesões, tanto crônicas quanto agudas.4 Morsicatio buccarum Morsicatio buccarum é o termo é utilizado para designar mordedura repetitiva causando queratiniza¸cão irregular da mucosa jugal, que se torna branca, com aspecto retalhado (fig. 4D). É um tipo específico de leucoceratose friccional. Pode ser uni ou, mais frequentemente, bilateral. Quadro semelhante pode ocorrer nas laterais da língua ou mucosa labial. Está associado com ansiedade ou estresse. Histologicamente, apresenta-se com queratiniza¸cão irregular, à semelhan¸ca de seu aspecto clínico.4 Mucocele e rânula Lesão comum da mucosa oral, resultado da ruptura do ducto das glândulas salivares menores e consequente derramamento de muco nos tecidos adjacentes.4 A maioria ocorre na mucosa labial inferior por mordedura (fig. 5A- C). Diferente do cisto de glândula salivar, a mucocele não apresenta epitélio de revestimento e, portanto, não é um cisto verdadeiro.12- 14 A mucina extravasada abaixo da superfície mucosa por vezes confere um tom azul translúcido. Não é raro ter conteúdo hemorrágico. Por outro lado, lesões muito superficiais apresentam aspecto vesicular. Os patologistas devem estar cientes dessa lesão e não confundir histologicamente com desordens vesicobolhosas, em especial o penfigoide de membranas e mucosas.12,13 Rânulas são mucoceles que ocorrem no assoalho da boca envolvendo as glândulas salivares maiores (sublingual, e raramente a submandibular). Clinicamente, percebe-se uma massa translúcida, também podendo ser azulada, relativamente grande no assoalho da boca, lembrando uma ‘‘barriga de sapo’’, por isso o nome rânula.15 7
P.R. Souza, L. Dupont, G. Mosena et al. Figura 5 (A e B) Mucocele. (C) Mucocele hemática. (D) Queilite esfoliativa Queilite esfoliativa Descama¸cão persistente das semimucosas labiais e/ou a própria pele dos lábios, causada pelo hábito de lamber os lábios, recebe também o nome de lip licking (fig. 5D). Há predominância em jovens com menos de 30 anos. As lesões iniciam com ressecamento e evoluem com eritema e descama¸cão e fissuras, podendo ficar cobertas por crosta hiperceratótica amarelada ou hemorrágica, o que pode levar à hiperpigmenta¸cão da parte cutânea dos lábios.4 Infecciosas Candidíase Infec¸cão fúngica mais comum da cavidade oral, cujo principal agente etiológico é Candida albicans. Vale lembrar que esse organismo pode ser componente da microflora oral normal, presente em até 50% das pessoas na ausência de doen¸ca. Acomete principalmente indivíduos debilitados, imunocomprometidos. O uso de corticoides sistêmicos ou inalatórios são causa comum.4 Apresenta-se sob diferentes formas: pseudomembranosa (as pseudomembranas geralmente podem ser removidas com gaze, deixando a superfície eritematosa, erosada ou ulcerada), eritematosa, crônica multifocal (atrofia centro papilar da língua e envolvimento de outras áreas), atrófica crônica ou estomatite dentária (nas áreas de suporte de prótese dentária removível), queilite angular (acúmulo de saliva favorecendo a infec¸cão) e mucocutânea (rara, associada a um grupo de desordens imunológicas - fig. 6A). A glossite romboidal mediana ou atrofia papilar central (área eritematosa, bem delimitada, na linha média posterior da língua) é afec¸cão controversa que já foi considerada como defeito no desenvolvimento; é provavelmente causada por Candida, havendo melhora nem sempre total quando tratada como candidíase. A presen¸ca de disfagia deve levar à suspei¸cão de candidíase esofagiana.4 Hanseníase Lesões orais são incomuns nas formas tuberculoide eborderline, ocorrendo com maior frequência na Virchowiana. Os locais resfriados pela passagem de ar são os mais acometidos, com preferência pelo palato. Apresenta-se inicialmente como pápulas firmes, sésseis, de colora¸cão amarelo- -avermelhado que evoluem com ulcera¸cão e necrose, podendo ocorrer perda completa da úvula e destrui¸cão óssea por infiltra¸cão local. O acometimento dos lábios pode gerar macroqueilia, e o envolvimento do maxilar nas crian¸cas pode afetar o desenvolvimento dentário.4,16 8
Anais Brasileiros de Dermatologia 2024;99(1):3- 18 Figura 6 (A) Candidíase. (B) Herpes simples - com lesões reacionais em alvo nas mãos. (C) Herpes zóster com erosões unilaterais (cortesia Prof. Hiram Larangeira de Almeida Jr.) Herpes simples A forma sintomática da primoinfec¸cão herpética manifesta- -se como gengivoestomatite e costuma acometer crian¸cas. Sintomas sistêmicos como febre, náusea e irritabilidade estão presentes. Caracteriza-se por vesículas que rapidamente coalescem, formando várias pequenas lesões eritematosas que evoluem com ulcera¸cão central coberta por fibrina (fig. 6B).4 As recorrências ocorrem por reativa¸cão viral e costumam estar associadas a fatores como estresse físico ou emocional, radia¸cão ultravioleta, trauma local, gesta¸cão e eventos que diminuem a imunidade. Acontecem nos locais da inocula¸cão primária ou em áreas adjacentes; é mais frequentes no vermelhão dos lábios. Em pacientes imunossuprimidos, as recorrências costumam ser mais extensas e persistentes, podendo formar grandes áreas de erosão ou ulcera¸cão, algumas vezes recobertas por crosta necrótica.4 Em pacientes imunossuprimidos com lesões ulceradas ou necróticas periorificiais, quer sejam orais, nasais, genitais ou anais, sugerimos considerar sempre a hipótese de herpes simples em virtude de sua alta prevalência nessas popula¸cões, fazendo com que seu diagnóstico seja muito provável nesses indivíduos.4 Herpes zóster Uma fase prodrômica dolorosa ocorre em praticamente 90% dos casos, em queima¸cão e/ou parestésica; eventualmente, o pródromo se manifesta como dor dentária. As lesões orais do herpes-zóster (HZ) ocorrem quando há o envolvimento do nervo trigêmeo, estendendo-se sem ultrapassar a linha média, frequentemente em conjunto com o acometimento ipsilateral da pele (fig. 6C). São lesões vesiculosas que evoluem para ulceradas/aftoides, podendo coalescer.17 Uma possível complica¸cão na infec¸cão por HZ no nervo trigêmeo ou facial maxilar é o desenvolvimento de paralisia craniana e periférica, como a síndrome de Ramsay-Hunt, na qual o paciente desenvolve paralisia de Bell, vesículas dentro do ouvido externo e perda de sensibilidade nos dois ter¸cos anteriores da língua.18 Hiperplasia epitelial focal A hiperplasia epitelial focal, também chamada de doen¸ca de Heck, foi descrita em nativos americanos e Inuit. A doen¸ca é também observada em grupos indígenas da América do Sul eCentral.19 A causa envolve os vírus HPV 13 e 32, associada à predisposi¸cão genética. Não foi observada associa¸cão com lesões malignas.20 Apresenta-se como lesões papulosas que assumem aspecto de pedra de cal¸camento intraoral, geralmente assintomáticas, de superfície lisa. O diagnóstico envolve o reconhecimento clínico das lesões associado à análise histopatológica. Técnicas de biologia molecular podem ser empregadas a fim de averiguar a presen¸ca do vírus HPV.20 9
P.R. Souza, L. Dupont, G. Mosena et al. Figura7 (A) Lesão moriforme labial (cortesia Prof. Sílvio Alencar Marques). (B) Estomatite moriforme (cortesia Prof. Sílvio Alencar Marques). (C) Sífilis Histoplasmose A maioria das lesões orais ocorre na forma disseminada da doen¸ca e pode afetar qualquer área da cavidade oral.21 As lesões orais normalmente ocorrem como múltiplas úlceras dolorosas e crescimentos verrucosos, úlceras profundas rodeadas por bordas infiltrativas com áreas eritematosas ou brancas com superfícies irregulares, como lesões nodulares endurecidas e irregulares acompanhadas por linfadenopatia local, mimetizando outras doen¸cas infecciosas ou tumores malignos. Os locais comumente envolvidos na cavidade oral são a língua, o palato, a mucosa oral, as gengivas e a faringe. O diagnóstico diferencial deve incluir células escamosas, carcinoma, neoplasias hematológicas, tuberculose, outras infec¸cões fúngicas profundas, lesões orais observadas com doen¸ca de Crohn, sialometaplasia necrotizante do palato e úlceras traumáticas crônicas.21,22 Leishmaniose mucocutânea O envolvimento da mucosa é relativamente raro e resulta da dissemina¸cão hematogênica ou linfática dos amastigotas da pele para a mucosa nasal, orofaríngea, laríngea ou traqueal.23 Quando acomete a mucosa oral, a doen¸ca se torna destrutiva ou ulcerovegetante e granulomatosa, acompanhada de granula¸cões grosseiras e sulcos profundos normalmente associadas à sintomatologia dolorosa, com dificuldade de degluti¸cão, sialorreia, odor fétido e sangramento. Na cavidade bucal, os locais mais afetados por essas lesões são os lábios, o palato duro, o palato mole e a úvula, enquanto as lesões alveolares, língua, amígdalas e região retromolar são raras e estão associadas principalmente com casos de imunossupressão.24 Paracoccidioidomicose A manifesta¸cão oral da paracoccidioidomicose é extremamente importante para o diagnóstico da doen¸ca, e é a principal área anatômica para sua confirma¸cão por biopsia.25 A dissemina¸cão para mucosa oral e nasal geralmente ocorre após o comprometimento pulmonar inicial.26 As mucosas oral, faríngea e laríngea estão envolvidas em até 70% dos pacientes adultos.27 Em geral, as lesões se apresentam como hiperplasia granulomatosa e eritematosa, intercalada por manchas hemorrágicas, denominadas estomatite moriforme (fig. 7A e B), seguida de ulcera¸cão. Gengiva e palato são os locais mais afetados.28 10
Anais Brasileiros de Dermatologia 2024;99(1):3- 18 Sífilis Assim como na pele, a sífilis na mucosa oral também exibe enorme variedade de apresenta¸cões nos diferentes estágios da doen¸ca, e é um desafio diagnóstico na prática clínica.7 A sífilis primária manifesta seu cancro como úlcera única, profunda, de base eritematosa, arroxeada ou acastanhada com bordas irregulares e elevadas, geralmente acompanhando linfadenopatia cervical (fig. 7C). Na maior parte dos casos, a lesão aparece nos lábios - nos homens, principalmente no lábio superior, e nas mulheres, no lábio inferior - e mais raramente na língua. Diagnósticos diferenciais importantes nessa fase incluem úlceras traumáticas e carcinoma de células escamosas.29 Na sífilis secundária destacam-se as sifílides maculares, que se manifestam como pequenas lesões avermelhada no palato duro, as placas mucosas que são úlceras superficiais da mucosa, ricas em treponema, cobertas por exsudato esbranqui¸cado, e o condiloma plano, cuja manifesta¸cão é semelhante à da pele.29 Na sífilis terciária, na mucosa oral assim como no restante do corpo, a lesão mais comum é a goma, de aspecto endurecido, nodular, que posteriormente se ulcera, capaz de produzir grande destrui¸cão tecidual.29 Verruga viral As verrugas pertencem a um grupo extenso (> 100) de vírus DNA, os papilomavírus ou HPVs. Alguns subtipos são frequentemente encontrados na cavidade oral ou genital, como o HPV-6, 11, 16 e 18. Clinicamente, apresentam pápulas elevadas brancas ou róseas, eventualmente filiformes, no palato, gengiva, língua e mucosa labial. Pode ocorrer progressão para carcinoma verrucoso, denominado também papilomatose oral florida. O diagnóstico de HPV pode ser confirmado histologicamente e é caracterizado por papilomatose, paraceratose, hiperceratose e coilocitose.4 Inflamatórias/miscelânea Aftas orais recorrentes A estomatite aftosa recorrente é a afec¸cão mais comum da mucosa oral, caracterizada pelo surgimento de lesões ulcerativas em qualquer região da mucosa jugal, podendo variar em tamanho, quantidade e distribui¸cão. Tem etiologia desconhecida; as lesões podem ser também desencadeadas por mordedura e seus portadores relatam surgimento ou agravamento relacionados ao estado emocional. As lesões associadas à doen¸ca são divididas em três grupos: estomatite aftosa recorrente menor (minor), estomatite aftosa recorrente maior (major) e aftas herpetiformes.30,31 A forma minor é a afta comum. São circulares ou ovaladas rasas e geralmente medem até 5 mm de diâmetro. Apresentam pseudomembrana branco-acinzentado, rodeada por halo eritematoso. Acontece na mucosa labial, jugal e assoalho da boca. Desaparece sem deixar cicatriz, geralmente entre 7 e 10 dias. Em estudo populacional brasileiro, no qual participou um dos autores, a prevalência de aftas recorrenFigura 8 Angina bolhosa hemorrágica tes em indivíduos do sexo masculino de 18 anos na cidade de Pelotas (RS) foi maior que 20%.32 A forma major é mais rara, conhecida como ‘‘úlceras de Sutton’’. Geralmente aparece depois da puberdade. São lesões maiores, com mais de 1 cm, muito dolorosas, que duram de 20 a 30 dias e podem deixar cicatriz.4 A terceira variante é a herpetiforme. É forma rara, caracterizada por múltiplas lesões menores, variando de 1 a 3 mm de diâmetro. As lesões podem confluir formando placas maiores. Podem acometer qualquer região da cavidade oral.4 Algumas doen¸cas apresentam lesões aftoides entre suas manifesta¸cões, como a doen¸ca de Beh¸cet, neutropenia cíclica e a síndrome PFAPA (síndrome de febre periódica, estomatite aftosa, faringite e adenite).4 Angina bolhosa hemorrágica A angina bolhosa hemorrágica é doen¸ca subepitelial incomum, benigna, que consiste no aparecimento de bolha hemorrágica geralmente no palato, podendo medir 2 cm ou mais, que logo se rompe (fig. 8). Pacientes podem ser surpreendidos por hemorragia oral durante o sono, em virtude da ruptura da bolha. Alguns indivíduos relatam trauma com alimento, ou queimadura por alimento quente, mas muitos não referem nenhum trauma. Após a ruptura, a lesão cicatriza em poucos dias sem deixar cicatriz.33,34 O uso de corticoides inalatórios é fator de risco importante para essa afec¸cão.35 Estomatite urêmica A estomatite urêmica é desordem rara, relacionada a complica¸cões graves de doen¸cas renais. Pode se manifestar sob quatro formas distintas: ulcerativa (a mais comum e que se mostra como lesão ulcerada e eritematosa na mucosa), hemorrágica (sangramentos, principalmente na gengiva), hiperceratótica (a menos comum, ocorrendo em quadros de insuficiência renal de longa data) e eritemato-pultácea (forma¸cão de pseudomembranas, geralmente em pacientes com doen¸ca renal controlada).36,37 Pode simular leucoplasia oral pilosa. 11
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